Associação Brasileira de Provedores
de Internet e Telecomunicações

Abrint na Mídia

Após longa crise, fornecedores das teles voltam a receber encomendas

28/03/2017 Voltar

A recessão, a crise cambial e a redução dos investimentos das operadoras de telecomunicações afetaram a cadeia de fornecimento do setor nos últimos dois anos, como num efeito dominó. A indústria, pressionada também por crises em vários países, encolheu e ajustou-se aos tempos difíceis. Agora, já percebe sinais de retomada dos investimentos das operadoras, que voltaram a fazer pedidos neste primeiro trimestre.

Para os fornecedores, as teles não conseguem mais conter a defasagem das suas redes frente ao aumento da demanda e se viram forçadas a investir. Além disso, elas se animaram com a iminente mudança no marco regulatório do setor, já que a lei vigente é de 1997, quando o fax, o telegrama e o bip ainda faziam sucesso.


O reaquecimento das vendas é percebido por fabricantes distribuídos pela cadeia de telecomunicações. A gigante sueca Ericsson demitiu entre 3 mil e 4 mil funcionários mundialmente em 2016, com "ajustes" no Brasil, onde tem mais de 2,5 mil colaboradores. Só na América Latina, as vendas caíram 16%. Mas 2017 se apresenta como promissor, com progressos em volume de compras pelos clientes, disse Eduardo Ricotta, vice-presidente da Ericsson para América Latina e Caribe e responsável pela operação no Brasil.

Na opinião de Ricotta, o que vem impulsionando as vendas é a melhora da economia, embora lenta. O maior problema da região que comanda é a variação cambial, disse. São mais de 30 moedas e 53 entidades legais da empresa. Com fábrica em São José dos Campos (SP), a Ericsson depende da importação de grande parte dos componentes, o que exerceu pressão pressão sobre as receitas. É da sede no Brasil que a companhia atende toda a América Latina. A nova onda de investimentos deverá gerar emprego em toda a cadeia produtiva, diz Ricotta.

O otimismo vem do projeto que autoriza alterar a Lei Geral de Telecomunicações e migrar os contratos de concessão da telefonia fixa para autorização - em tramitação no Senado. Além disso, o saldo dos bens reversíveis das concessionárias, estimado hoje em cerca de R$ 18 bilhões, poderá ser revertido em investimento na expansão da banda larga, principalmente em regiões remotas, rurais ou de baixa densidade populacional.
Teles, indústria, governo, legisladores e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) pressionam pela aprovação do projeto. O mercado potencial de banda larga é enorme. Em janeiro, havia 26,8 milhões de acessos em banda larga fixa no país, com 38,92 acessos por 100 domicílios. Na banda larga móvel, eram 64,8 milhões de linhas de dados 4G (31,3 por 100 habitantes) e 115 milhões de 3G. 

Para alguns fornecedores, boa parte da expansão em banda larga será pela rede 4G. A velocidade de transmissão é superior a das antigas redes de cobre, que tem de 20 a 30 anos de uso, diz Ricotta.

A finlandesa Nokia também já sente ventos mais favoráveis. "Estamos aumentando os investimentos", diz Dimitri Diliani, presidente da Nokia para América Latina, sem revelar valores. "Os operadores estão planejando mais, procurando planos mais ambiciosos. Se olharmos as oportunidades, compararmos 2017 com 2016, vejo alguma melhora e mais estabilidade."

Diliani disse que as condições de mercado foram severas em toda a América Latina - com destaque para o Brasil -, África e Ásia-Pacífico. Ele destaca que existem 40 milhões de assinantes no Brasil com baixa velocidade na internet, abaixo de 5 megabits por segundo. Anos atrás, quem tinha essa velocidade era considerado "o rei do pedaço", disse. Hoje,o mínimo necessário é de 10 Mbps. Além disso, cita os 100 milhões de pessoas sem acesso. "É um número imenso para o Brasil. Isso tem que mudar." 

Falta cobertura porque o Plano Nacional de Banda Larga é complexo, diz Reinaldo Jeronymo, diretor de telecomunicações da Prysmian. "Isso levou a maioria das operadoras a interromper os investimentos, o que se refletiu sobre os fornecedores de fibras ópticas em 2016. Sofremos com o [menor] volume e compensamos com os provedores de internet, que construíram onde as teles não conseguiram investir", disse o executivo.

Mesmo com o reaquecimento das vendas, Jeronymo disse que a Prysmian não vai deixar os provedores de lado. Esse segmento representou 45% de suas vendas em 2016 e deve atingir 30% em 2017 com o aumento da participação das teles, estima Marcello Del Brenna, presidente-executivo da Prysmian América do Sul.

Em 2016, de 1 milhão de adições de banda larga fixa, 46% pertenciam aos provedores de internet, diz Erich Rodrigues, presidente da Abrint, que representa o segmento. A Abrint tem 3,5 mil associados, um por cidade. Eles detêm ainda 50% do total de 1,7 milhão de conexões por fibra.

A Juniper também afirma ter presença forte entre os pequenos provedores. Sua receita global cresceu 3% em 2016. No Brasil, a operação ficou estável, o que é bom, considerando os problemas do mercado, disse Marcos Villas Boas, diretor-geral no país e responsável pela América Latina. "Hoje, o desafio é outro. Nossa maneira de viver depende de elementos associados à eletrônica ao nosso redor, o celular em todo lugar, sensores no corpo para monitorar saúde e indo para carros autoconduzidos", diz Villa Boas. "E isso tem de ser regulado agora."

O foco, antes só nas operadoras, agora está também nos provedores de conteúdo, conhecidos como "over the top" (OTTs), como Google, Netflix e Amazon. 

O Brasil se atrasou com implantação de fibra em relação a outros países, diz Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa. O mercado internacional cresceu para a empresa, diluindo a participação brasileira, que foi 72% da América Latina em 2016 e recua para 70% neste ano. Até 2022, o bloco internacional e o Brasil terão 50% cada.

Shaikhzadeh disse que de 2012 a 2016 houve aumento da capacidade da fábrica no Brasil. Mas, com a retração em 2015 e 2016, o mercado total não passou de 4 mil km de fibras. Para 2017, espera pequeno avanço, para 4,2 mil km. Com a mudança da lei, prevê 5 mil km em 2018. Cabos metálicos e ópticos somam 50% da receita da empresa.

Com operações na Argentina e Colômbia, a brasileira Padtec manteve-se estável em 2016 e projeta alta da receita acima de 10% em 2017. Manuel Andrade, presidente da empresa, lembra que a demanda por banda larga é grande e reprimida. Como o serviço continua a crescer, qualquer alta decorrente da lei será só um acelerador, com impacto em 2018, diz ele.

 

Fonte: Valor Econômico 

 

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